Por Aline dos Santos , CAMPO GRANDE NEWS
Em 08 de Agosto de 2023, 16:37 h
“Alguém levou minha menina”, diz Raquel, que há quatro anos procura por Regiane
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Raquel mostra cartaz feito em 2018, quando a nora desapareceu. (Foto: Marcos Maluf)

Enquanto os netos crescem, o portão é trocado e novos cachorros chegam, só duas coisas seguem cristalizadas no tempo na casa de Raquel Ferreira Melgarejo Rodrigues, 48 anos: a obra que era tocada pela nora e a espera por Regiane Alves Medeiros Acunha, que sumiu sem deixar vestígios desde a manhã de 13 de dezembro de 2018.


Quase cinco anos depois, os mais de mil dias sem notícia logo viram pranto a embargar a voz de Raquel, sogra da moça desaparecida.


“Sempre cuidei dela como se fosse a minha filha, é a minha filha. Eu prefiro até que ele tenha ido embora com alguém do que esteja morta. Porque ninguém sabe da minha dor. Mas na minha cabeça, ela não foi embora, alguém levou a minha menina. Eu só quero ela de volta. Ela voltando para a casa, não vou fazer julgamento e nem perguntas”, diz Raquel.


Regiane foi morar na casa da sogra quando tinha 16 anos. Quando desapareceu, aos 22 anos, tinha dois filhos. No dia em que sumiu, saiu de casa para fazer um acerto trabalhista. Mas, conforme a sogra, o documento nunca foi assinado e o dinheiro da rescisão ficou parado no banco.


Daquele 13 de dezembro de 2018, Raquel se lembra que a nora foi levar um dos cachorros para atendimento. O irmão de Raquel relatou que a jovem se mostrava nervosa e mexia bastante no celular. Recusou ofertas triviais, como de café e suco, mas disse que aceitaria se ele pudesse lhe emprestar R$ 200. O pedido do dinheiro horas antes de receber a rescisão chamou a atenção. Mas ela disse que não era “nada não”. 


O plano era que o irmão de Raquel lhe desse carona até o Centro de Campo Grande. Mas como o cachorro defecou no porta-malas, o parente deixou Regiane num ponto de ônibus perto do imóvel. Ela trajava blusa preta, short social preto com risca branca, sandália dourada e bolsa preta. A cor do cabelo é o único ponto em que a memória falha, pois Regiane era, nas palavras da sogra, “camaleônica”, cada hora com uma coloração diferente nos fios. 


A partir daí, não foi mais vista. Raquel acredita que ela saiu do bairro com alguém, pois não utilizou o transporte público e nem carro de aplicativo. No WhatsApp, segundo dados de processo, a última conversa conhecida foi às 9h52 daquele dia. Quando disse: "tá, depois nós se fala", em diálogo com o pai de seus filhos.


Para Raquel, causa estranheza a jovem desaparecer dias depois de ter comprado material de construção para a obra da casa no quintal da sogra e alimentos para abastecer o trailer de lanches. 


Quatro anos e 137 dias depois do desaparecimento, ela conta que enfrenta críticas por não mover mais esforços para achar a jovem; foi alvo de golpista que tentou se passar por detetive particular, apesar de a profissão ser pintor; e sofre a cada vez que é marcada na rede social para ler notícias sobre corpos carbonizados. 


Em tanto tempo, apenas por três vezes ouviu falar que a nora tenha sido vista. Pouco depois do desaparecimento, um amigo disse que viu Regiane numa motocicleta, parada no semáforo. Depois de muitos anos, uma mulher disse na rede social de Raquel que tinha visto a jovem, mas usando peruca. Por fim, a vizinha teria visto moça perto da casa, no Bairro São Jorge da Lagoa.


 “A gente fica pensando, será que era ela? A gente não sabe se foi levada para o exterior, se encontrou uma pessoa que carregou ela para outro canto. Se não está no sistema de saúde é porque trocou de nome ou a pessoa que consumiu com ela fez uma coisa muito bem feita”, diz Raquel. 


As versões ainda incluem que ela vive feliz em uma chácara ou que tenha saído de casa para fazer aborto. A família desconhece gravidez. Regiane tinha tido envolvimento extraconjugal, mas havia reatado o casamento. 


Além da ausência de Regiane, a avó precisa administrar o impacto na vida dos netos, uma menina de 8 anos e um menino de quatro anos. Para a mais velha, a explicação é de que a mãe é uma espiã em longa missão longe de casa. Raquel fixou uma data para contar a verdade, março de 2025, quando a menina fará dez anos. E é com dor no coração que vê o dia se aproximando, sem ter uma boa notícia para dar.


Sobre a atuação da polícia no caso, ela destaca o empenho, mas lamenta uma troca no meio da apuração. “Só não agiram mais rápido ainda por perda de informações, não deles, mas das pessoas. Um dos erros maiores foi ter tirado o delegado que estava à frente e mandado para Ponta Porã e os casos daqui ficaram ao Deus-dará”, afirma.


Em abril de 2019, a Delegacia de Homicídios de Campo Grande, que também investiga desaparecimentos, teve duas trocas de comando, que, como foi revelado pela operação Omertà, foi resultante de uma abordagem em que Flávio Correa Jamil Georges, filho do Rei da Fronteira, Fahd Jamil Georges, ficou “chateado”.


A investigação cumpriu mandado de busca em residência, obteve ordem judicial para quebra de sigilo de dados de celulares, consultou banco de dados de aplicativos de transportes e teve acesso até aos prontuários de atendimento de Regiane na rede pública de Saúde. 


"Devolva a minha menina para mim. Tenho certeza que ela não morreu. Toda vez que eu sento ali na sala para fazer crochê, eu fico esperando ela entrar pelo portão. Quando trocou de cachorro, eu pensei, meu Deus, quando a Regiane entrar, os cachorros vão atacar ela. Eu só quero que ela entre por esse portão adentro”, diz Raquel. 



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